A aquicultura é um empreendimento agrícola acolhedor? Quais são os problemas que as mulheres enfrentam ou enfrentaram para participar da ciência e da tecnologia aquícola? Quais são os impactos da sub-representação das mulheres negras nesta área da ciência?
Porque somos tão poucas mulheres negras? No que tange a geração de conhecimento e tecnologia para produção de organismos aquáticos observamos que a participação feminina na área de ciências agrárias vem aumentando e pode ser considerada que há equidade de gênero. No entanto, há sub-representação feminina em postos mais avançados da carreira e em posição de prestígios. A participação das mulheres diminui à medida que o nível das bolsas é maior (1A e 1B) e isso é maior no recorte de mulheres negras e pardas. Observamos que não há mulheres negras nas posições de destaques uma vez que o acesso à educação superior é um acesso recente a esta população. As políticas afirmativas de cotas possibilitam o acesso à escolaridade de nível superior a população negra. Dados revelam que há um aumento de 7,33% de mulheres pretas na universidade. Mas quais as áreas de preferência desta população? As carreiras com maior remuneração ainda não é a escolha para esta população. A barreira de acesso delas a algumas áreas do conhecimento, como as ligadas às ciências exatas e à esfera da produção. A partir dos dados do Censo da Educação Superior de 2022, nós somos apenas 22,0% das que estavam se formando de Ciências, Tecnologias, Engenharias, Matemática e programas interdisciplinares abrangendo essas áreas (CTEM). Isso destaca a realidade da exclusão vertical em relação ao pertencimento racial, quanto maior o posto na carreira científica menor a representação de mulheres negras. Esta realidade tem perspectivas de mudanças? Quais são as possibilidades? O aumento da população negra feminina na universidade pode não resultar em efetividade no aumento desta população no setor tendo em vista os variados e múltiplos obstáculos construídos a partir do racismo. Assim, quando tratamos de inclusão feminina na C&T, devemos entender que há problemas comuns às mulheres (imagem do cientista enquanto homem), mas obstáculos específicos às mulheres negras (imagem do cientista enquanto homem e branco). Considero que a baixa presença de mulheres não brancas atualmente ratifica que o acesso às carreiras científicas tem sido mais difícil, principalmente em algumas áreas de maior prestígio, requerendo urgência na implementação de políticas de ação afirmativa. O racismo velado é um problema em todas as áreas de produção e atinge a ciências agrárias e a aquicultura. A compreensão das interseções entre gênero e raça/etnia, pouco explorada é um grande desafio teórico, metodológico e político a ser enfrentado. Ao meu redor não compartilho espaço com mulheres negras e paradas, durante meus 20 anos de docência tenho a escassez de alunos não brancos sob minha orientação. As questões de representatividade ainda é um ponto de destaque e inspiração para as próximas gerações. Onde estamos mulheres negras na aquicultura fortalecendo a corrente de nos ajudar e puxar nossa população para melhores condições socioeconômica e de reconhecimento profissional.